sexta-feira, 8 de abril de 2011

Prisioneiro.


Uma nova pagina em branco, novas palavras para serem usadas. Já é noite e olho pro céu, que mesmo escuro, começa a clarear sob meu olhar. Pessoas cruzam a estrada sem olhar a faixa de pedestres. Há um refém perdido na noite, um refém que acabou de sair de sua própria prisão. Escravo da solidão, sofrendo a dor do frio das gotas de chuva que pousam sobre sua pele suja e cheia de feridas que a vida lhe deu. Seca-lhe a lagrima, não podemos correr, a rua ainda não acabou, o sinal ainda está vermelho, você está onde está.
Pesam-lhe os olhares ocultos que lançam sobre ele, mas ele não cai, ele reconstrói a duvida que lhe atinge. Derrubam-no na calçada, junto com a formigas inocentes que trabalham hoje, ele olha para o céu, há uma luz. Algo que lhe atinge, algo que o faz querer viver. Há outra luz, a do poste. Ela se apaga. Mais olhares ocultos sobre ele. Amigo, você ainda não perdeu. Ainda há chances de vencer. Dignidade é o que basta para poder atravessara rua. O sinal verde chega, e, sob sons interminantes que vem de sua cabeça, atravessa a rua.
Agora ele não esta sozinho, varias outras pessoas cruzam a mesma estrada. Mas ninguém o olha. Ele não tem dinheiro, só roupas rasgadas como o vento que rasga ao alvorecer do dia. O final do dia parece não mais chegar. Ele anda pela outra calçada e logo os carros começam a dar partida. O que há de errado em dar errado? A vida não é certa. Alguns não tem sorte mesmo, é que a sombra da justiça nem sempre aparece, ou nem sempre deu as caras. Ou talvez ninguém saiba o que é justiça. Somente fazem, e dizem que está certo ou errado.
Outra vez olhou pro céu, olhou para o nada. Estava mais claro que o normal, viu algo invisível. Ouviu algo que era menos estrondoso que o raio chegando ao solo, mas era impactante. Deitou-se na calçada latejando sobre seu corpo com dores exaustas da vida. Seu olhar agonizante lhe trouxe nada mais que lembranças ruins. Lembranças que o faziam derramar lagrimas pela sua pele. Tossiu jogando pra fora as mágoas que havia adquirido dos olhares maus e ocultos que lançaram-lhe. Abruptadamente, se cobriu com jornais que havia encontrado nos lixos, e ali descansou com sua face triste e incomodada pelo jeito que havia tido a vida.
Então apareci ao lado dele, sua dor me tocava com suas mãos sujas, eu oferecia ajuda. Olhei para o céu, havia escurecido. Enxuguei suas lagrimas. Não era um miserável, não era um parasita. Havia um coração dentro dele, e eu sabia disso pois havia tocado em seu peito para dizer que tudo ia ficar bem. Assim saiu a luz e entrou a noite, aprofundando em meus pensamentos me fazendo querer sua dor, dividi-la comigo, amenizar seu sofrimento. Sua prisão havia sido destruída pelos montes e que havia percorrido, agora que estava livre, e não era mais um escravo de sua própria dor, viveu com mais intensidade, até atravessar a rua novamente.


( Autor Desconhecido )

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